terça-feira, 3 de abril de 2012

O FILHO DO HOMEM

O FILHO DO HOMEM:
O FILHO DOHOMEM, 1.9-20

O Cenário daVisão (1.9-11)

Antes que João pudesse receberuma apresentação prévia do que ocorreria no futuro, ele precisa ver o próprioCristo. O cenário da visão era o apóstolo na ilha de Patmos em espírito, no diado Senhor (10). O assunto da visão era o Filho do Homem, parado no meio da suaIgreja.

O autor apresenta-se como Eu,João (9). A. R. Fausset chama nossa atenção para os paralelos em Daniel 7.28;9.2; 10.2 e comenta: “[Essa é] uma das muitas semelhanças entre os videntesapocalípticos do Antigo e do Novo Testamento, Nenhum outro autor das Escriturasusa essa frase”.

João se descreve como vossoirmão, ou companheiro cristão, e companheiro na aflição, e no Reino, e napaciência de Jesus Cristo. Isso é mais corretamente traduzido da seguinteforma: “companheiro participante [synkoinonos] na tribulação e reino e perseverançaque estão em Jesus” (NASB). A palavra paciência é um termo passivo demais parao grego hypomone, que significa “persistência e constância”.

Acerca da frase na aflição,Bengel faz a seguinte observação convincente: “Esse livro tem um grande apreçopelos fiéis na aflição”. O livro de Apocalipse foi escrito em uma época degrande tribulação para os cristãos, e ele se torna muito significativo em  tempos como esses. João estava na ilha dePatmos. Essa era uma pequena ilha com cerca de 16 quilômetros de comprimento denorte a sul e não mais do que 10 quilômetros de largura situada a cerca de 60quilômetros a sudoeste de Mileto. Ela é constituída de montes vulcânicosrochosos.

A apóstolo estava lá por causa dapalavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo. Isso não significa que eletinha ido à ilha para pregar o evangelho. Uma paráfrase correta seria: “porqueeu havia pregado a palavra de Deus e dei meu testemunho de Jesus” (NEB). Aspequenas ilhas do mar Egeu eram usadas pelos romanos como lugares de reclusão,para os quais eram banidos os prisioneiros políticos. Uma comparação entre 6.9e 10.4 mostra que no livro de Apocalipse palavra de Deus e testemunho sãousados em conexão com a perseguição dos cristãos. Falando da opressão porDomiciano (95 d.C.), Eusébio escreve: “Nessa perseguição, de acordo com atradição, o apóstolo e evangelista João, que ainda estava vivo, em conseqüênciado seu testemunho da palavra divina, foi condenado a morar na ilha de Patmos”.

Ele também diz: “Mas, depois queDomiciano tinha reinado quinze anos, e Nerva chegou ao governo, o senado romanodecretou que [...J aqueles que tinham sido expulsos injustamente deveriamretornar aos seus lares e ter seus bens restaurados [...] Foi então que oapóstolo João retornou do exílio e voltou a morar em Efeso, de acordo com umatradição antiga da igreja”. 

Parece que tempos de tribulaçãofreqüentemente preparam o terreno para a revelação de Deus ao homem. Plummerobserva: “Foi no exílio que Jacó viu Deus em Betel; foi no exílio que Moisésviu Deus na sarça ardente; foi no exílio que Elias ouviu ‘uma voz mansa edelicada’; foi no exílio que Ezequiel viu a glória do Senhor junto ao rio Quebar;foi no exílio que Daniel viu o “ancião de dias”.

João declara que quando recebeu avisão, estava em espírito (10). O que isso significa? Os tradutores têminterpretado essa frase de diversas formas: “em transe” (NT 2Oth Century),“inspirado pelo Espírito” (Weymouth), “arrebatado no Espírito” (Moffatt),“possuído pelo Espírito” (Berk.), “no poder do Espírito” (C. B. Williams),“alcançado pelo Espírito” (NEB). Os comentaristas diferem muito na tradução.Lange explica a frase como significando o seguinte: “transportado para fora daconsciência ordinária de cada dia e colocado na condição de êxtase profético”.Simcox traz: “Foi levado a um estado de arrebatamento espiritual”. Charles dizque egenomen en pneumati (lit.: “tornei-me no espírito”) “não significa nadamais do que o vidente cair em transe”.

Lenski escreve: “A frasesignifica ‘em espírito’, e não deveríamos escrevê-la com letra maiúscula comoque se referindo ao Espírito Santo. Esse é o pneuma de João”. Ele acreditatratar-se de um êxtase milagroso, “um estado causado diretamente por Deus”. Nóspreferimos a interpretação de Swete que entende que toda a frase “denota aexaltação de um profeta debaixo da inspiração” (do Espírito).

Essa experiência imponente veio aJoão no dia do Senhor. Alguns entendem que isso significa “o dia do Senhor”,uma frase profética comum no Antigo e Novo Testamento. Eles acreditam que ovidente foi transportado em espírito para o tempo da Segunda Vinda.

Mas o grego aqui descarta essainterpretação. Do Senhor é um adjetivo, não a expressão comum do genitivo “doSenhor”. Essa expressão ocorre somente mais uma vez no Novo Testamento (1 Co11.20 — “a Ceia do Senhor”). Ela significa “pertencer ao Senhor” ou “consagradoao Senhor”.

O adjetivo é encontrado diversasvezes nas inscrições e nos papiros do Egito e Asia Menor, em que significa“imperial”.O exemplo mais antigo conhecido do uso dessa palavra está em umainscrição de seis de julho de 68 d.C. Aqui são encontradas as ex- pressões “asfinanças imperiais” e “tesouro imperial”. Deissmann também observa que desde 30a.C. até o tempo de Trajano (98-117 d.C.) um certo dia de cada mês era observadocomo hemera Sebaste, em memória do nascimento de Augusto, e sugere que “otítulo distinto ‘dia do Senhor’ [kyriake hemera] pode ter estado conectado comsentimentos conscientes de protesto contra o culto ao imperador, ou seja, o‘dia de Augusto”. Pode ser que os cristãos tenham adotado o nome dia do Senhorem comemoração à ressurreição de Jesus no primeiro dia da semana. No gregomoderno, o domingo é chamado de kyriake. Dessa passagem no Apocalipse, Charlesdiz: “Aqui ‘dia do Senhor’ tornou-se uma designação técnica do domingo”.

Não é difícil reconstruir ocenário. No exílio em Patmos, João foi impedido de se reunir com os santos nodomingo. Olhando para o mar aberto, ele indubitavelmente pensava nos cristãosem Efeso reunidos para adorar. Ele bem pode ter estado meditando naressurreição. Moffatt sugere: “Com a sua mente absorvida no pensamento do Jesusexaltado e abastecida com conceitos de Daniel e Ezequiel, o profeta teve oseguinte êxtase no qual os pensamentos de Jesus e da igreja, já presentes nasua mente, são unidos em uma visão”.

T. F. Torrance une as afirmaçõesdos versículos 9 e 10 — Eu, João [...] estava na ilha chamada Patmos e fuiarrebatado em espírito, no dia do Senhor. Ele então faz esta observação:
“Nessas duas sentençasautobiográficas vemos logo de início a situação dupla da qual esse livronasceu. Por um lado, há o destino duro e cruel do tempo, mas, por outro, há oEspírito do Deus Todo-poderoso”.

Assim, preparado no coração e namente para a revelação, João ouviu atrás de si uma grande voz (cf. Ez 3.12). Osom veio tão alto e claro como o soar de uma trombeta.

Que dizia (11) equivale a aspas.Aquele que falava era evidentemente Jesus (cf. vv. 12-13). As palavras “Eu souo Alfa e o Omega, o Princípio e o Fim, e” não estão nos manuscritos maisantigos. O mesmo é verdade para que estão na Asia (cf. v. 4). João recebe aordem de escrever em um livro o que vê. A palavra grega é biblion, origem da nossapalavra “Bíblia”. Ela se refere ao rolo de papiro, para ser distinguido depergaminhos mais caros que eram feitos de peles de animais (cf. 2 Tm 4.13). Orolo de Apocalipse teria cerca de cinco metros de comprimento.

O rolo escrito deveria serenviado para as sete igrejas (cf. v. 4). Essas igrejas são agora designadaspelo nome. As distâncias entre essas cidades são calculadas por Charles:
“Esmirna ficava a cerca de 65quilômetros ao norte de Efeso, Pérgamo a 65 quilômetros ao norte de Esmirna,Tiatira a 72 quilômetros a sudeste de Pérgamo, Sardes a 48 quilômetros ao sulde Tiatira, Filadélfia a 48 quilômetros a sudeste de Sardes e Laodicéia a 65quilômetros a sudeste da Filadélfia”. Bowman escreve: “Uma olhada no mapa da provínciaromana da Asia mostra as sete igrejas organizadas na forma de um castiçal desete braços do Templo de Herodes — números 1 e 7, 2 e 6, 3 e 5 formando paresde lados opostos com o número 4 no topo”.

Sir William Ramsay, uma dasmaiores autoridades da história primitiva da Asia Menor, insiste de formaacertada que deve ter havido um motivo para a seleção dessas sete igrejas emparticular. O primeiro motivo era o sistema de estradas. Ele nota que “todas asSete Cidades ficam na grande estrada circular que unia a parte mais populosa, ricae influente da província, a região centro-ocidental”. Ele finalmente chega àseguinte
 conclusão: “A hipótese inevitavelmente sugereque os sete grupos de igrejas, em que a província havia sido dividida antes queo Apocalipse tinha sido composto, eram sete distritos postais, cada um tendocomo centro ou ponto de origem uma das sete cidades”. Isso é apenas uma teoria,mas ela parece interessante.

O Tema da Visão(1.12-20)

João se virou “para identificar avoz de quem estava falando” (NEB) com ele. E virei-me (12) — melhor traduzidopor “tendo me virado” — vi sete castiçais de ouro — ou “candelabros” ou “lustres”.Isso é diferente do que o castiçal de sete braços com sete lâmpadas de Zacarias4.2. No meio dos castiçais de ouro havia um semelhante ao Filho do Homem (13).Visto que o grego não tem o artigo definido antes de Filho, muitos tradutoresmodernos trazem literalmente: “um filho do homem”. Plummer concorda com essatradução e comenta: “O Messias glorificado ainda apresenta essa forma humana,da maneira como o discípulo amado o havia conhecido antes da sua ascensão”.Swete observa: “O Cristo glorificado é humano, mas transfigurado”.96Semelhantemente, Lange escreve que semelhante (homoios) “é também em parteindicativo da visão apostólica de que a personalidade humana de Cristo, em suaglorificação, é vestida com o esplendor de majestade divina”.

A forma mais satisfatória detratar a frase um semelhante ao Filho do Homem parece aquela que Simcoxapresenta. Ele diz: “A ausência do artigo aqui não prova que não se tenha emmente o nosso Senhor, mas que o título foi tirado diretamente do grego emDaniel 7.13, em que as duas palavras também estão sem o artigo [...] aspalavras em si não significam mais do que ‘eu vi uma figura humana’, mas assuas associações deixariam claro a todos os leitores do livro de Daniel que foium Ser sobre-humano em forma humana; e para um cristão dos dias de João, comopara os do tempo atual, Quem esse Ser era.

Os sete castiçais (candelabros)são mais tarde identificados como simbolizando “as sete igrejas” (v. 20).Assim, aqui a figura é de Cristo parado no meio de sua Igreja.
Esse é um pensamentotremendamente confortante. Mas, também encontramos um desafio nesse quadro. Seas igrejas são lâmpadas, elas deveriam iluminar as trevas desse mundo. Moffattescreve: “A função das igrejas é personificar e expressar a luz da presençadivina sobre a terra [...] seu dever é manter a luz queimando e brilhando, senão a razão da sua existência desaparece (2.5)”.

Agora vem a descrição detalhadado Filho do Homem glorificado.

Oprimeiro item é: vestido até aos pés de uma veste comprida. Com a exceçãode vestido [...] de (particípio passivo perfeito) toda a cláusula é uma palavrano grego, podere. Ela é, na verdade, um adjetivo, encontrado somente aqui esignificando “alcançando até os pés”. A palavra é usada em Exodo (LXX) paravestimentas sacerdotais. Moffatt diz que esse termo, “uma veste que alcança atéos pés, era um símbolo oriental expressando dignidade”.’

Apróxima cláusula, e cingido pelo peito com um cinto de ouro, é mais bemtraduzido por: “e com um cinturão de ouro ao redor do peito” (Weymouth). Esse era “maisum símbolo de uma posição elevada, geralmente reservada a sacerdotes judeus,embora os persas freqüentemente se dirigissem aos seus deuses como ‘cingidoscom cinturão elevado’  Ao unir essas duassentenças, temos uma figura de dignidade sacerdotal e real. Para nenhum outroessa combinação é tão apropriada quanto para o nosso Senhor.

Oterceiro item é: sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve(14).Swete observa: “Exposjtores antigos encontram no cabelo branco como neve um símboloda preexistência eterna do Filho”. Plummer escreve: “Esse branco como neve é
parcialmente o brilho da glóriacelestial, parcialmente a majestade da cabeça branca”.

Mas vários comentaristas chamam aatenção ao fato de que cabelo branco é um sinal de
decadência quando associado comidade. Assim, Lenski conclui: “Achamos que essa passagem com o símbolo docabelo que é branco como neve e lã tem a intenção de representar Jesus como sendocoroado com santidade”. Há um paralelo próximo em Daniel 7.9 (LXX).

Oquarto ponto na descrição do Cristo glorificado é que os olhos eram como chamade fogo (phlox pyros). Essa é uma alusão evidente a Daniel 10.6 — “e osseus olhos, como tochas de fogo” — uma metáfora comum na literatura latina egrega. J. B. Smith sugere que esse aspectosimboliza “onisciência e escrutínio”.’ Swete acrescenta:
“O brilho penetrante [...] quereluzia com inteligência vivaz, e quando necessário surgia com ira justa, foipercebido por aqueles que estavam com o nosso Senhor nos dias da sua carne[...] e encontra sua aposição, como o vidente agora percebe, na vida após aressurreição e a ascensão”.

Oquinto item é: e os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse
sidorefinado numa fornalha (15). Novamente encontramos um paralelo emDaniel
10.6 — “e os seus braços e osseus pés, como cor de bronze polido” (cf. Ez 1.4, 7, 27; 8.2).

A palavra grega para latãoreluzente (“bronze polido”, ARA) é incerta quanto ao seu significadoetimológico. Mas, o sentido parece esse apresentado nas nossas versões em português.O simbolismo sugerido por Swete é: “Pés de latão representam força e estabilidade”.Refinado também pode ser traduzido por “incandescente” ou “ardente”. Nas Escrituras,latão parece tipificar julgamento.

Umsexto aspecto é: e a sua voz, como a voz de muitas águas. Em Daniel 10.6 lemos:“e a voz das suas palavras, como a voz de uma multidão”. Mas os ouvidos de Joãoestavam repletos com o bramido das ondas do mar Egeu batendo contra a ilharochosa de Patmos. Assim, ele usa essa imagem para descrever a voz. Ao fazê-lo,no entanto, ele estava fazendo eco a Ezequiel 43.2 — “a sua voz era como a vozde muitas águas”.

OFilho do Homem tinha na sua destra sete estrelas (16). O significadodisso é dado no versículo 20. E da sua boca saía uma aguda espada de dois fios.Essa era originariamente “uma espada grande, longa e pesada, quase da altura deum homem, que é manejada com as duas mãos, uma arma dos trácios”. Mas naSeptuagínta ela é aparentemente usada de forma sinônima à palavra maisconhecida para uma espada comum. Lenski acrescenta: “Onde lemos ‘dois fios’ ogrego traz ‘duas bocas’, os dois gumes mordendo, devorando como duas bocas. Apalavra ‘aguda’ é acrescentada. Ela era afiada a tal ponto que pudesse cortarprofundamente”.

A linguagem dessa sentença parecerefletir Isaías 11.4: “e ferirá a terra com a vara de sua boca”; e Isaías 49.2:“E fez a minha boca como uma espada aguda”. Charles comenta: “A espada queprocede da boca do Filho de Deus é simplesmente um símbolo da sua autoridadejudicial”.”° Retratos literais disso na arte religiosa e diagramas proféticosmostram-se ridículos e beiram o sacrilégio. Eles deveriam nos advertir contrarepresentações visuais de figuras simbólicas no Apocalipse. O último item dadescrição é o seguinte: e o seu rosto era como o sol, quando na sua forçaresplandece. Esse é um eco óbvio da transfiguração (Mt 17.2).

Depois de observar os diversosempréstimos do livro de Daniel, Kiddle faz este comentário: “Embora uma partedo quadro de João não seja original, ele transmite uma concepção do Messias queé única, porque Cristo é dotado de um esplendor e autoridade que até entãosomente tinham sido atribuídos a Deus”.  Essa é uma das ênfases inequívocas do NovoTestamento.

Oefeito da visão foi esmagador: caí a seus pés como morto (17). Danielexperimentou uma reação muito parecida em sua visão (Dn 10.8-9). Palavrassemelhantes são usadas em Josué 5.14 e Ezequiel 1.28; 3.23; 43.3. Erdmancomenta: “Cada visão da pureza, majestade e poder divino inspira admiração ereverência”.
No entanto, esse Cristo severo dojulgamento também era o Cristo compassivo. Porque ele pôs sobre João a suadestra (cf. Dn 10.10; Mt 17.1) e disse: Não temas (cf. Dn 10.12). Eu sou oPrimeiro e o Ultimo é usado para referir-se a Deus em Isaías 44.6. Mas aquiessa frase se refere claramente a Cristo, e ressalta a sua divindade, como é ocaso em 2.8 e 22.13.

E o que vive (18) ou “e Aqueleque vive” (kai ho zon) — um título divino, aplicado a Deus tanto no Antigo comono Novo Testamento. Essa frase deveria ser conectada com o que precede ou com oque segue, [e] fui morto (kai egenomen necros)? Charles entende que se refere àsegunda opção. Ele une os dois itens em uma linha poética: “E Aquele que vive eestava morto”. Então diz: “Os comentaristas mais recentes conectam kai ho zoncom as palavras precedentes. Mas em cada exemplo, quer em Isaías quer noApocalipse, a frase ‘eu sou o Primeiro e o Ultimo’ é completa em si mesma, e afrase kai ho zon simplesmente enfraqueceria a plenitude da afirmação feitanessas palavras. Por outro lado, quando conectadas a kai egenomen necros, elassão cheias de significado no contraste entre a vida eterna que Ele possui e acondição da morte física à qual se submeteu por amor do homem”.

Aquele que estava morto agorapode dizer: eis aqui estou vivo para todo o sempre. Em outras palavras, Ele é oEterno. A palavra Amém não é encontrada nos melhores manuscritos gregos edeveria ser omitida. Há mais uma afirmação: E tenho as chaves da morte e doinferno. Talvez fosse melhor transliterar hades, em vez de traduzir por inferno(cf. NVI — “E tenho as chaves da morte e do Hades”).

Uma vez que tem havido muitadiscussão acerca desse termo, seria proveitoso estudar um pouco melhor o seusignificado. No pensamento grego, Hades era primeiramente o nome do deus dosubmundo. Mais tarde tornou-se sinônimo do submundo em si, como o lugar dosespíritos dos mortos. Na Septuaginta, Hades é a tradução da palavra hebraica Sheol,o reino dos mortos.

Josefo, o historiador judeu doprimeiro século, revela o pensamento confuso do judaísmo nos dias de Jesusacerca desse assunto. Ele declara que os fariseus entendiam que as almas dosjustos e dos ímpios ficavam no Hades.”4 Mas, embora sendo ele próprio umfariseu, escreve que a alma do obediente “obtém um lugar santíssimo no céuE...] enquanto a alma daquele que agiu perversamente é recebida no lugar maissombrio no Hades”.

Poderia parecer que o termoGeena, nos ensinamentos de Jesus (cf. Mt 5.22), devesse ser identificado com o“lago de fogo” de Apocalipse 19.20; 20.10, 14-15. Mas a morte e o Hades sãolançados no lago de fogo (20.14). Assim, obviamente o lugar do castigo eterno éGeena, não Hades. J. Jerernias escreve: “Em todo o NT, Hades serve somente comoum propósito interino. O Hades recebe as almas após a morte e os entreganovamente na ressurreição (Ap 20. 13).1 16 Charles diz o seguinte acerca dessetermo em Apocalipse: “De acordo com nosso autor, Hades é a habitaçãointermediária somente dos ímpios ou injustos”.

As chaves significam autoridade.Jesus possui plena autoridade sobre o domínio da morte e do Hades. R. H.Charles apresenta uma observação apropriada acerca do versículo 18:
“Esse versículo descreve o triploconceito de Cristo em João: a vida eterna permanente que Ele tinhaindependentemente do mundo; sua humilhação a ponto de morrer fisicamente e suaressurreição para uma vida não somente eterna em si mas para uma autoridade universalsobre a vida e a morte”.

Charles Simeon nota que nosversículos 17-18, Jesus faz uma afirmação tríplice de ser: 1) o Deus eterno; 2)o Salvador vivo; 3) o Soberano universal.

João já havia recebido a ordem deescrever em um rolo “o que vês” (v. 11). Agora a ordem é repetida e feita deforma mais explícita: Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as quedepois destas hão de acontecer (19).

Erdman rejeita fortemente a“concepção popular” de que esse versículo nos fornece um esboço triplo do livrode Apocalipse.Mas nós preferimos seguir Charles quando escreve: “Essas palavrasresumem, grosso modo, o conteúdo do livro. Ha eides [as coisas que tens visto]é a visão do Filho de Deus que tinha acabado de ser mostrada ao vidente; haeisin [as que são] refere-se diretamente à condição atual da Igreja, mostradanos capítulos 2 e 3, e indiretamente ao mundo em geral; he meilei ginesthaimeta tauta [as que depois destas hão de acontecer] diz respeito às visões apartir do capítulo 4, que, com a exceção de algumas seções que se referem aopassado e ao presente, tratam do futuro”. Esse é o esboço adotado nestecomentário.

O primeiro capítulo termina comuma explanação do mistério das sete estrelas [...] e dos sete castiçais. Acercadessa expressão significativa Erdman escreve:”‘Mistério’ é no uso do NovoTestamento, verdade ou realidade divinamente revelada”. Swete diz que mistérioé “o significado interno de uma visão simbólica”.

João é informado de que as seteestrelas representam os anjos das sete igrejas. Uma vez que a palavra gregaangelos significa “mensageiro” e é claramente usada para mensageiros humanos emLucas 7.24; 9.52 e Tiago 2.25, muitos acreditam que a referência aqui seja aosmensageiros que seriam enviados com as cartas às sete igrejas — talvezdelegados que vieram daqueles lugares para visitar João — ou mais simplesmente,os “pastores” das igrejas. Essa idéia é contestada, visto que nas mais de 60vezes que a palavra angelos é usada nesse livro dissociada da conexão com asigrejas, ela sempre se refere a seres sobre-humanos.

Swete conclui: “Há, portanto, umaforte conjectura de que os angeloi ton ecciesion são ‘anjos’ no sentido que apalavra tem em outras partes do livro”. Charles concorda plenamente. Swetetambém não concorda em identificá-los como “anjos guardiões” das igrejas. Elefinalmente chega a uma conclusão: “Conseqüentemente, a única interpretação quesobra é a que entende que esses anjos são duplicatas ou contrapartes celestiaisdas sete Igrejas, que, assim, vêm a ser identificadas com as próprias Igrejas”.Provavelmente, mais aceitável é o ponto de vista de Erdman de que “anjo” é “oespírito predominante” na igreja, “uma personificação do caráter, temperamentoe conduta da igreja”.

Parece que um ponto de vistamelhor formulado é o de Alfred Plummer. Ele escreve:
“A identificação do anjo de cadaigreja com a própria Igreja é mostrada de uma maneira marcante pelo fato de,embora cada epístola ser dirigida ao anjo, ainda assim, a estrofe recorrenteseja: “ouça o que o Espírito diz às igrejas”, não “aos anjos das igrejas”.
O anjo e a Igreja são os mesmossob diferentes aspectos: um no seu caráter espiritual personificado; o outro,na congregação dos crentes que coletivamente possuem esse caráter.

Mas nos perguntamos se essainterpretação deixa espaço adequado para a distinção
entre as estrelas e os castiçais.Este comentarista é relutante em desistir da visão popular de que os anjos sãoos pastores das igrejas um pensamento grandemente confortador: eles sãoguardados nas próprias mãos de Cristo.


Elaboração pelo:- EvangelistaIsaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia deDeus Ministério Belém Em Dourados – MS


Fonte:- Comentário Bíblico Beacon

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