terça-feira, 3 de abril de 2012

Guerra litúrgica e fragmentação na adoração


Por Antognoni Misael


A pós-modernidade legou as sociedades o caráter da descentralização, relativização da verdade, e a fragmentação segmentária de grupos e ideias. Nos dias de hoje, é normal ser, por exemplo, paraibano mas, culturalmente jamaicano. O não-lugar, o conflito de pensamentos, os gostos, afetos, e influências, fazem com que em um espaço comum haja a celebração móvel da diferença entre crenças, culturas e classes sociais. 

Respeitável público, falando-se de Brasil, no mundo chamado Cristão, as fragmentações ocorrem a nível global e afetam incisivamente a igreja evangélica na terra de Vera Cruz. A confusão teológica reina entre as “noivas” de Cristo, e mais que isso, ela mescla-se com heresias, esquisitices e tradição. 

Observando esta colossal fragmentação - e não confundam, não tem nada a ver com a graça multiforme de Deus – trago uma situação conflitante, possível de ocorrer frequentemente na maioria das igrejas brasileiras, inclusive nas históricas-tradicionais.

Imaginemos uma igreja de linha reformada, cuja teologia preza pela centralidade do culto, pela doutrina da graça e eleição cuja Palavra é tratada como única fonte de revelação divina. Porém, por não ter controle sobre a “Tsunami Gospel” do modismo é afetada numa das áreas de mais destaque no culto: a música. 

O pastor ora, conduz a igreja a um momento de confissão de pecados, em seguida ler Efésios 2, e convoca a igreja a adorar em Espírito e em Verdade a Deus através de cânticos espirituais, dando oportunidade ao Grupo de louvor. Então, logo começa a guerra e o teatro. Guerra, porque talvez ele nem imagine que em poucos minutos o culto tornar-se-á um “batalha espiritual”; teatro, porque a poeira do palco certamente irá subir.

- Boa noite igreja! Diz o irmãozinho que se considera letiva.

- Quem tem Jesus dê um brado de vitória! 

- Pisa! Pisa na cabeça do inimigo, Igreja! Jesus quer ver você louvando, por isso “Pule, pule, pule na presença do Rei”! 

... o trem desce de ladeira abaixo. E quando a poeira baixa, começa a “Sessão Mantra”.

Canções tipo: “Jesus pode mudar a sua história de novo”, “Mestre eu preciso de um milagre”, “Hoje o meu milagre vai chegar”, “Eu quero de volta o que é meu”, terminam por declarar que a guerra na verdade é do homem contra Deus, na ânsia de tomar centralidade.

Após tal momento antropocêntrico, imagino o querido pastor voltando ao púlpito – ou feroz, ou desiludido – e pensando consigo: “mais um culto fragmentado, que Deus tenha misericórdia”!

Sinceramente, não sei como alguns pastores têm agido diante disso. Não sei se a desculpa pousa numa suposta escassez de repertório, coisa que não é. Enfim, acredito que a solução pra essa turma que mistifica o culto é muita overdose de Bíblia, conhecimento teológico, equilíbrio entre fórmula e conteúdo, e acima de tudo, temor a Deus. Caso contrário, a identidade e coesão das igrejas locais se diluirão, o teatro continuará e a fragmentação fará da igreja um mosaico distorcido entre a Verdade de Deus e os vexames dos humanos.

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