quarta-feira, 11 de abril de 2012

Acordem cristãos! Não podeis servir a Cristo e a Nietzche!



Por Cristiano Santana

Cada época tem o seu filósofo da moda, e na nossa Nietzche desponta como sendo o predileto de uma legião incontável de fãs, composta por intelectuais e por leigos que querem impressionar com uma fachada artificial de cultura.

Não causa surpresa alguma a existência de tantos admiradores desse filósofo, nesta sociedade que se afasta cada vez mais de Deus, mas o que me causa profundo assombro é saber que há cristãos que se dizem fãs desse declarado inimigo do cristianismo.  Esse pensador dedicou quase toda a vida ao projeto de derribar as colunas mestras da doutrina da salvação e da ética cristã. Então, como é possível ser servo de Cristo e de Nietzche? Um simples resumo de suas veementes críticas contra cristianismo basta para que nos convençamos de que estamos diante do arauto do Anticristo. Aliás, não é por acaso que ele escreveu um livro com este nome!

Para Nietzche a bondade cristã é um medicamente danoso, pois privilegia a fraqueza. Referindo-se, de forma desdenhosa, às bem-aventuranças do sermão da montanha, ele diz:

"Só os desgraçados são bons; os pobres, os impotentes, os pequenos, são os bons; os que sofrem, os necessitados, os enfermos, são os piedosos, são os benditos de Deus; só a eles pertencerá a bem-aventurança; pelo contrário, vós, que sois nobres e poderosos, sereis por toda a eternidade os maus, os cruéis, os cobiçosos, os insaciáveis, os ímpios, os réprobos, os malditos, os condenados…"

O cristianismo, com sua moral do amor ao próximo, humildade e obediência, significa para Nietzsche, no geral, uma vitória da moral do escravo, com a conseqüência de que naturezas fortes, que continuam existindo, são forçadas a fazer toda a sorte de concessões, dissimulações, distorções e posturas indiretas, para poderem exercer a sua força. O terceiro capítulo, onde se descrevem gênese e corporificações dos ideais estéticos, é um exemplo para o mascaramento da força em um culto religioso da humildade" (SAFRANSKI, 2001, p. 277).

Para esse pensador, o cristianismo era o mal absoluto, o câncer da humanidade:

"O que é o bem? Tudo aquilo que eleva no homem o sentimento de poder: a vontade de poder o poder em si mesmo. O que é o mal? Tudo aquilo que nasce da fraqueza. O que é mais nocivo do que o vício? Piedade ante todos os fracassos e debilidades. Isso é o Cristianismo. Cristianismo é a religião da piedade. somos privados de toda força quando sentimentos compaixão." 

Após declarar a morte de Deus, em seu livro "Assim falou Zaratrusta",  o filósofo tentou colocar em prática o seu projeto de preencher o vazio deixado pela ausência do Ser Supremo através da doutrina do super-homem. Já que a sociedade, dominada pela ciência, não dependia mais da existência do Deus benevolente dos  cristãos, o homem teria de trilhar o seu próprio caminho, na mais absoluta liberdade. O homem superior teria de superar suas próprias limitações. Nietzche tentou preparar o mundo ético do novo homem através do  projeto que ele chamou de "a transvaloração de todos os valores" que consistia na substituição de todos os absolutos morais, que reinavam até então, por princípios regulados pela "vontade de poder".   

Não há espaço aqui para refutar todas essas acusações contra o cristianismo, mas é preciso ressaltar que as críticas de Nietzche não foram dirigidas contra um cristianismo que tinha se degenerado no frio ambiente espiritual da Europa do Século XIX. Ele não estava protestando contra a perda da essência daquilo que Cristo tinha ensinado. Ele não procurava revelar o verdadeiro cristianismo. Ele era o inimigo consciente do cristianismo naquilo que lhe era mais original, que refletia a exata doutrina de Cristo e dos apóstolos, com seus princípios de amor ao próximo, da necessidade de arrependimento, da humildade, etc.  

Vários estudiosos afirmam que o colapso mental de Nietzche, aos 44 anos de idade, que o levou a completa loucura até a morte, foi resultado do caminho filosófico que ele próprio traçou, em sua tentativa de "transvalorar" todos os valores, isto é, inaugurar uma ética que não necessitasse mais de um fundamento judaico-cristão. Segundo afirmam, ele simplesmente não aguentou a enorme pressão que se formou dentro de si. Por isso, acabou refugiando-se na própria loucura. Triste fim.

Mas a pergunta vêm novamente à tona: o que se passa na cabeça de um cristão que se declara fã de Nietzche?  Inegável que ele tratou de temas interessantes como o devir, o mundo como processo, o  pensamento pré-socrático, a valorização da arte, etc. Mas isso serve de justificativa para o cristão ter carteira do clube do super-homem nietzschiano?

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